terça-feira, maio 02, 2006

"Lunar"

"Uma brisa ergue-se no interior da terra e chega a mim, à consciência de mim: o meu rosto, os meus lábios, o meu corpo tocado por essa brisa. Caminho por entre essa brisa a passar por mim, como se atravessasse uma multidão invisível. A brisa, ao tocar os meus olhos, transforma-se em lágrimas que descem frias pelo meu rosto. Os meus lábios. Sinto-as e sinto a memória das vezes que chorei o desespero parado, mais triste, de lágrimas que descem lentamente pelo rosto. O tempo passa por mim como qualquer coisa que passa por mim sem que a consiga imaginar e as lágrimas, que eram apenas a brisa a tocar os meus olhos, começam a ser lágrimas de desespero verdadeiro. Paro no passeio. O mundo pára. E lembro-me de ti como uma faca, uma faca profunda, a lâmina infinita de uma faca espetada infinitamente em mim."


José Luis Peixoto, in Antídoto

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez, só escolhes coisas lindas. Chego à conclusão que mais vale amar e sofrer desgostos ou desilusões, ou ter amado só por uns momentos do que levar uma vida fútil e padronizada por coisas que não valem absolutamente nada. Viva os que amam(isto não é da coca cola) lol, pois só esses sabem o que realmente importa na vida
Jokitas enormes
(nota: os meus pais vão para a Suécia de carro dia 5 de Junho, FIESTA)

segunda mai. 08, 11:46:00 da tarde WEST  

Enviar um comentário

<< Home