sexta-feira, maio 26, 2006

«Imagina a distância melancólica dos salgueiros
nas margens dos rios da Babilónia, repete silenciosamente
o nome da terra de que foste deserdado. Habita
num instante metafisico a tua casa vazia, a solidão
com o passar do tempo, o abandono em que precariamente
subsiste tudo o que julgaste inabalável, o exílio
que te impuseram no primeiro dia de outono. Dá-me
um abraço, para que te diga, apaziguado pela proximidade,
que a solidão é o quinto lugar do medo.

A morte é o mais solitário de todos os acontecimentos.
Peço-te: não me olhes. Desejo que a morte me encontre
sozinho numa tarde azul de setembro, cercado por tílias,
adormecido no hipnótico murmúrio da brisa, na fragrância
anabolizante da terra, no escatológico ruor das folhas.»


(JoséRuiTeixeira)